quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Operação cardíaca inovadora

Operação cardíaca inovadora é realizada pela primeira vez no Rio Grande do Sul
Nova técnica colocada em prática permite cirurgia cardíaca menos invasiva, sem a necessidade de abrir o tórax do paciente


O estudante de Relações Públicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Pedro Fernandes Nunes Farias, 20 anos, tem o desejo de voltar a jogar futebol. Na última ocasião em que esteve em quadra, em 2011, desmaiou, teve convulsões, e a conclusão foi de que teria de sofrer uma nova intervenção cardíaca - dessa vez, porém, seria diferente: Pedro foi o primeiro paciente a passar por um novo procedimento no Estado, muito menos invasivo.

Fazia dois anos que o médico Raul Rossi, chefe do Setor de Cardiologia Intervencionista em Cardiopatias Congênitas do Instituto de Cardiologia, em Porto Alegre, falava à família de Pedro sobre a técnica, desenvolvida na Europa no ano de 2000. Até então, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) não a havia liberado no Brasil devido a caminhos burocráticos que deve seguir.


Foi só no último dia 17 que duas pessoas passaram pela operação no Hospital do Coração, em São Paulo. No dia seguinte, foi a vez de Pedro, no Instituto de Cardiologia, em Porto Alegre.

O jovem tem atresia pulmonar, doença congênita grave que complica a passagem de sangue pela válvula pulmonar entre o ventrículo direito e a artéria pulmonar. Pedro havia feito três intervenções para tratar o problema.

Boa parte dos efeitos dessas cirurgias ele não lembra, com exceção da colocação de um marca-passo, que foi mais complicado e ele teve de voltar ao hospital no dia seguinte para refazer o procedimento. Foi com o marca-passo que ele sofreu o desmaio na quadra.

- Sempre joguei normalmente. Até que tive esse desmaio. Minha expectativa é poder voltar a jogar - diz.

O paciente não sente sequelas com a nova técnica, que permite a normalização do funcionamento da válvula pulmonar com a colocação de um stent costurado a uma jugular bovina. O objeto é introduzido por um cateter na veia femoral profunda. De trauma pode ficar um hematoma na virilha. Durante o trabalho dos médicos, o coração segue batendo.

Um dia após a operação, o paciente já pode ir para casa. É um benefício considerável principalmente para quem tem de fazer cirurgias periódicas para trocar as válvulas colocadas, por exemplo. De outra forma, teria de abrir o peito, parar o coração, o que gera convalescência de um mês.

- A vantagem é que a recuperação é muito mais rápida. Qualquer outra incisão no tórax, por menor que seja, tem algum efeito, como redução da capacidade pulmonar ou dor torácica - explica Rossi.

Há 20 pacientes esperando pela cirurgia em Porto Alegre

A técnica foi liberada pela Anvisa recentemente, mas o custo do procedimento - perto de R$ 90 mil - se tornou um empecilho para o pagamento pelo Sistema Único de Saúde (SUS) ou por planos privados. A família de Pedro teve de entrar na Justiça contra o plano, e acabou conseguindo fazer a intervenção graças à cobertura que a empresa do pai dele tinha.

Há no mundo entre 5 mil e 6 mil pessoas que fizeram o novo procedimento. Em Porto Alegre, 20 pacientes aguardam para fazer a operação.

Número de leitos em dobro

De 240 leitos, o Instituto de Cardiologia passará a ter 480, no mínimo. Essa é a promessa do diretor-presidente da Fundação Universitária de Cardiologia (FUC), Ivo Nesralla. Ontem, a missão ficou mais próxima de ser cumprida com a sanção, pelo governador Tarso Genro, de projeto de lei que autoriza a doação do terreno onde hoje funciona o Instituto de Cardiologia à mantenedora da instituição, a FUC.

A área, localizada na Avenida Princesa Isabel, tem mais de 13 mil metros quadrados, e pertencia ao governo do Estado. A posse do local era pré-requisito para que a fundação obtivesse o empréstimo do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) necessário para as obras que ampliarão a capacidade do hospital - calculadas em R$ 15 milhões. O objetivo é poder contar com os 480 leitos ainda em 2014.

- Os 240 leitos estão sendo insuficientes, por causa da alta demanda. Disse hoje (ontem) ao governador o drama que é, para nós, atender um paciente com infarto agudo do miocárdio em uma cadeira. O governador teve a sensibilidade de doar esse imóvel para nós - afirmou Nesralla.

Além da ampliação do Cardiologia, a FUC pretende investir em uma parceria com o governo do Estado para a criação de mil novos leitos em municípios da Região Metropolitana. A ideia é ampliar 250 leitos nos hospitais de Viamão, Cachoeirinha (Padre Jeremias) e Alvorada, administrados pela entidade, e construir um novo hospital público em Gravataí, também com 250 leitos.

HISTÓRICO

Instituto de Cardiologia é referência nacional em cirurgia cardiovascular e reconhecido como hospital de ensino

- Em 1967, a FUC assumiu a gestão do Instituto de Cardiologia, mas não a propriedade do terreno e as respectivas instalações.

- Em 1997 e 1998, a entidade assumiu a gestão dos hospitais de Alvorada e Cachoeirinha, que eram mantidos pelo Estado.

- Em 2006, incorporou o Hospital de Viamão e, três anos depois, a gestão do Instituto de Cardiologia do Distrito Federal, somando cinco hospitais que compõem uma rede assistencial.

- Atualmente, o Instituto de Cardiologia é reconhecido pelo Ministério da Saúde como centro de referência em cirurgia cardiovascular.

- Entre os momentos mais importantes da instituição estão a implantação da primeira UTI coronariana do Estado, a realização da primeira cirurgia de ponte de safena, o primeiro transplante cardíaco, a primeira cirurgia cardíaca com uso de robótica e o reconhecimento do MEC e do Ministério da Saúde como hospital de ensino.
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Fonte: Gaucha ZH - clicrbs ( Publicado em 27/12/2013)

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