O perigoso lado ruim de ser perfeccionista
Amanda Ruggeri
Fonte: BBC
Trecho da matéria:Onde mora o perigo
O perfeccionismo também é perigoso. Um número recorde de jovens está sendo diagnosticado com transtornos mentais, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS). Depressão, ansiedade e pensamentos suicidas são mais comuns atualmente nos EUA, Canadá e Reino Unido do que há uma década.
Uma pesquisa mostrou que tendências perfeccionistas geram algumas dessas condições – como depressão, ansiedade e estresse –, mesmo quando traços da personalidade, como neuroticismo (propensão a emoções negativas), são controlados pelos cientistas.
Para piorar, a autocrítica pode desencadear sintomas depressivos, que conseguem, por sua vez, agravar o senso autocrítico, gerando um ciclo angustiante.
Os problemas de saúde mental não são causados apenas pelo perfeccionismo, mas alguns distúrbios podem levar a ele. Uma pesquisa recente descobriu, por exemplo, que estudantes universitários que têm ansiedade social são mais inclinados a se tornarem perfeccionistas. Mas não vice-versa.
Também foi constatado que a autocompaixão – virtude que falta aos perfeccionistas – é uma das formas de proteção mais poderosas contra a depressão e a ansiedade. Já a autocrítica, na qual eles são tão bons, leva à depressão.
Quando se trata do caso mais extremo, o suicídio, diversos estudos revelam que o perfeccionismo poder ser mortal. Ele deixa os pacientes deprimidos mais propensos a pensar em tirar a própria vida, além de aguçar sentimentos de desesperança.
Um estudo de meta-análise recente, o mais completo realizado até hoje sobre o elo perfeccionista-suicida, descobriu que quase todas as tendências perfeccionistas – como medo de errar, sentir que nunca será bom o suficiente, ter pais exigentes ou simplesmente padrões pessoais altos – estão com frequência relacionadas a pensamentos suicidas. As duas exceções são: ser organizado ou exigir dos outros.
Alguns desses fatores, particularmente a pressão dos pais e as preocupações perfeccionistas, foram associados a mais tentativas de suicídio.
"O pensamento em preto e branco pode levar os perfeccionistas a interpretarem os fracassos como catástrofes que, em circunstâncias extremas, são vistos como justificativas para a morte", escreveram os pesquisadores.
"Nossas descobertas também respaldam uma literatura mais ampla que sugere que quando as pessoas sentem que seu mundo social é repleto de pressão, julgamento e hipercrítica, elas pensam a respeito e/ou recorrem a várias formas possíveis de fuga (abuso de álcool e compulsão alimentar, por exemplo), incluindo suicídio."
Enquanto pessoas conscienciosas tendem a viver mais tempo, os perfeccionistas morrem mais cedo.
Em vários aspectos, não é de se surpreender que os indicadores de saúde dos perfeccionistas sejam piores.
"Perfeccionistas são muito afetados pelo estresse. Mesmo quando (algo) não é estressante, eles geralmente encontram uma maneira de tornar estressante", diz Gordon Flett, que estuda o perfeccionismo há mais de 30 anos e cuja escala de avaliação desenvolvida em parceria com Paul Hewitt é considerada uma referência.
Além disso, diz ele, se o perfeccionismo levar você a ser workaholic (viciado em trabalho), é improvável que você faça muitas pausas para relaxar – o que é fundamental para o funcionamento saudável do nosso cérebro e organismo.
Não importa o quão autodestrutivo o perfeccionismo possa parecer, trata-se de uma tendência compartilhada por cada vez mais pessoas.
O estudo de meta-análise de Hill e Curran foi o primeiro a investigar, de forma abrangente, a questão por um longo período de tempo.
No total, o levantamento agregou pesquisas com mais de 40 mil estudantes de graduação dos EUA, Reino Unido e Canadá. E, de uma maneira geral, registrou aumento no número de casos de 1989 a 2016.
Mas a maior alta foi referente ao "perfeccionismo social", caracterizado pela sensação de que os outros têm muitas exigências em relação a você: 32%.
"A razão pela qual é tão problemático é que se trata da dimensão mais fortemente associada a doenças mentais graves", diz Curran.
As descobertas estão alinhadas com pesquisas publicadas anteriormente. Um estudo de 2015 com adolescentes talentosos do subúrbio identificou, por exemplo, "índices significativamente mais altos de perfeccionismo (especialmente do tipo 'nocivo') do que em estudos conduzidos previamente".
Uma análise realizada por dez anos com adolescentes tchecos estudantes de matemática encontrou resultado semelhante.
Em sua clínica, onde muitas vezes atende pacientes com distúrbios alimentares, Egan observa a mesma tendência.
"Fico sempre chocada com as faixas etárias. Estamos vendo casos de meninas bem jovens: de sete anos, oito anos", diz ela.
"Isso geralmente é motivado pelo perfeccionismo. Então, acho que sim: as novas gerações estão ficando provavelmente mais perfeccionistas", avalia.
Achou interessante?