quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

Cobra-cega pode ajudar na cura da cirrose

Cobra-cega, anfíbio muito encontrado no Brasil, pode trazer respostas para a cura da cirrose, aponta pesquisa da Unifesp

Estudo encontra, nesse animal, função hepática promissora no combate à inflamação e fibrose no órgão

Por Ana Cristina Cocolo


Imagem: Cultura Mix
Uma pesquisa desenvolvida na Unifesp mostra que o anfíbio Siphonops annulatus – também conhecido por cobra-cega – possui uma função hepática natural nunca vista em outro animal e pode trazer avanços no tratamento ou mesmo a cura para a cirrose, doença que mata, por ano, cerca de 30 mil pessoas no país, segundo a Sociedade Brasileira de Hepatologia. O estudo, realizado em parceria com pesquisadores do Instituto Butantan e da Universidade de Surrey, no Reino Unido, foi publicado, recentemente, no periódico Journal of Anatomy.

A cirrose é o desfecho de lesões no fígado causadas pelo alcoolismo crônico, por hepatites e, em menor prevalência, por medicamentos. Em qualquer um dos casos citados, promovem uma resposta de autorreparação (fibrogênese) ao órgão, por meio da produção exagerada de colágeno e de cicatrização (fibrose), fazendo com que o fígado perca sua função e venha à falência completa. 

Os resultados do estudo conduzido na Unifesp, no qual utilizou-se a estereologia como método quantitativo, apontou que a cobra-cega possui células no fígado, chamadas melanomacrófagos, capazes de remover e degradar o colágeno. Elas também são capazes que fagocitar e digerir basófilos, células do sistema imune relacionadas aos processos inflamatórios e fibróticos.

A estereologia é um método que permite a análise quantitativa de imagens, contendo tecidos oriundos de diversos órgãos, não apenas em duas dimensões (2D) – compreendendo o comprimento e a largura –, mas também levando em conta sua profundidade (3D). Por meio de um software é possível estimar, por exemplo, o número total de células em relação ao volume do órgão. 

De acordo com o autor principal do trabalho, Robson Gutierre, que também é professor colaborador e pesquisador dos departamentos de Morfologia e Neurologia da Escola Paulista de Medicina (EPM/Unifesp) – Campus São Paulo, várias estratégias de tratamento para conter ou eliminar a fibrose hepática já foram testadas, sem sucesso, em ratos.


             Imagem da estereologia, método quantitativo de análise de células
Assim como em seres humanos, os ratos possuem células de Kupffer (também chamada de macrófago do fígado) que podem atuar na resposta pró ou anti-inflamatória em algumas doenças. No entanto, nos estudos com esses animais, nos quais foi injetado na corrente sanguínea, verificou-se que elas são capazes de fagocitar e degradar colágeno, porém não há evidências desta função in vivo sem a injeção de colágeno no sangue. “Uma vez que a cicatriz fibrótica seja instalada, não há como reverter a lesão”, afirma o pesquisador. "A habilidade que essa espécie tem de controlar suas defesas naturais também poderia fornecer uma visão da tolerância imune, um mecanismo pelo qual o fígado pode controlar inflamações indesejadas”.

Ainda, segundo ele, a tolerância imune pode ser estudada nessa espécie porque elas produzem células pro-inflamatórias nesse fígado hematopoiético durante toda a vida, sem desenvolver inflamações crônicas. Estes animais não possuem medula óssea e produzem células sanguíneas no fígado e baço.

Fonte: UNIFESP

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