segunda-feira, 31 de julho de 2017

NOTA DE FALECIMENTO Professor Iseu Gus

NOTA DE FALECIMENTO

No último domingo foi sepultado o Professor Iseu Gus, 
sócio fundador da FUC  que atuou nela durante todos os anos de sua história. Foi professor da disciplina de Cardiologia da antiga 
Faculdade Católica de Medicina (hoje UFCSPA), regendo-a por bom tempo.  Na FUC o Dr Iseu ocupou os cargos de Conselheiro,
 Diretor Tesoureiro e Diretor Presidente.
 Presentemente o Prof Iseu Gus exercia a chefia do setor de Epidemiologia do IC/FUC. O Prof Iseu deixa uma lacuna muito sentida em nossas fileiras que trataremos de preencher com a lembrança de seus conselhos e exemplo.







Homenagem ao Dr. Iseu Gus 

Em 29/07/2017 Iseu Gus partiu deste atribulado mundo. Senti no seu velório a grandeza do último encontro, naquele momento em que os pensamentos se voltam para a prestação de contas, na sua partida para a eternidade, pois tudo que fazemos é para ela. Na contagem do tempo, convivi com Iseu por mais de 50 anos, desde os tempos da pioneira e inexcedível Enfermaria 29 da Santa Casa, na década de 1960, passando pela Sociedade de Cardiologia do Rio Grande do Sul e Brasileira, Instituto de Cardiologia e Fundação Universitária de Cardiologia, onde fizemos parte da primeira diretoria junto ao fundador Rubem Rodrigues, e por muitos outros lugares.

Durante a construção do IC transportava tijolos em seu carro e, sensível aos problemas da FUC, abraçou-os, trabalhando por um tempo como seu diretor-presidente.  Merecendo sua confiança, indicou-me o primeiro paciente a ser submetido a uma angioplastia coronariana no RS, em 1982. Clínico diferenciado e humanitário não ficou só no consultório, procurou entender problemas de multidões e enveredou também para a Epidemiologia, cujo setor chefiou por décadas no IC/FUC. Persistente, dedicado e consequente, protagonizou estudo epidemiológico irreparável sobre fatores de risco coronariano no nosso Estado que ficará na história, primeiro determinando prevalências e, depois de doze anos, comparando-as para determinar as possíveis modificações. Assim ficou constatado, doze anos depois, diminuições da incidência de tabagismo e sedentarismo, mas, paradoxalmente, aumentos de obesidade, colesterolemia, diabete e hipertensão arterial, mostrando que  menos tabagismo e mais exercício não conseguiram contrabalançar os males da dieta crescentemente errada e do estresse. O incrível é que numa comunidade cuja subserviência cultural se deslumbra por qualquer bobagem escrita em inglês, por isso mesmo, não tenha se sensibilizado por resultados que serviriam por si sós como guias para campanhas médico-educacionais a beneficiar milhões de pessoas. Continuando no incrível, ainda falta manifestação da Secretaria da Saúde para aproveitar tão importante trabalho!

Com labor e dedicação, Iseu Gus enriqueceu sua vida de mais de oitenta anos, mas ao lado disso ressalta sua conduta pessoal. Considero-o uma das pessoas mais dignas que conheci, na verdade um homem à antiga, no melhor que essa expressão possa aludir em termos de educação e cortesia, sem fazer concessões ao que contrariasse seus princípios morais, éticos, religiosos, familiares. Intransigente para si, porém compreensivo, disponível e receptivo mesmo para os que não pensavam como ele. Realmente um tipo raro no mundo de hoje, cujos arautos tanto falam em diversidade, mas se comportam como algozes de consciências discordantes.

“Foi mais um desafio, um posto, uma chefia que desempenhei nesta Instituição onde há mais de 30 anos compareço diariamente. Ainda me sinto jovem e cheio de projetos... É fundamental que todos aqui trabalham encontrem nesta casa um espaço para seus sonhos e projetos... Tem de haver o idealismo, o prazer de ser útil, a ambição de saber beneficiar o próximo e a sabedoria de ser médico... Não deixem que, eventualmente, ambições muito personalizadas e individuais fiquem maior que o cerne da nossa Instituição: o bem comum." Estes são alguns trechos da mensagem aos seus companheiros, quando  mais uma vez completou um ciclo a serviço do Instituto de Cardiologia do Rio Grande do Sul, deixando o cargo de Diretor, vinculado à Secretaria da Saúde.

No conteúdo dessas palavras, ressalta a coerência entre discurso e método, entre pessoa e ação, entre intenção e fato. Iseu Gus, sem demagogia e sem falsa modéstia, tudo o que fez considerou apenas serviço. Numa ação pedagógica ensinou-nos que honra é estar disponível, independente do cargo. O que vale é servir e não servir-se. Assim tem sido sempre. Nunca fez questão de "só ocupar a primeira posição". Como um médio volante dedicado a seu time, encaixa-se em qualquer setor necessário para o maior desempenho do conjunto, no Corpo Clínico, no Serviço de Epidemiologia, nas relações éticas com a comunidade. Assim tem sido na FUC desde os seus primórdios e na UFCSPA, onde conduziu a disciplina de Cardiologia, em substituição ao emérito Rubem Rodrigues. Mais que qualquer cargo, sempre transitório, ressalta o exemplo de dedicação, que é permanente.

Iseu, teus colegas do IC/FUC, procurando expressar o sentimento de todos que aqui trabalham, querem tornar público o reconhecimento pela tua atuação. Em qualquer homenagem deve prevalecer o julgamento pelos pares, pois um falso líder pode enganar todo mundo menos seus pares, cuja inserção no contexto permite detectar qualquer mistificação. Esta é a maior homenagem, porque brota espontâneamente de pessoas capazes de julgar teu trabalho - não dado por findo, pois ficará a mensagem -, sem outro interesse que não o de fazer justiça.
                                                   
                                                           Carlos A.M. Gottschall 
                                                        Diretor-Científico do IC/FUC
Carlos Antonio Mascia Gottschall
Fonte: Notícias em Destaque - Site Oficial do Instituto de Cardiologia do RS

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